11/30/2007

Ainda sobre o post anterior. Note-se bem que nem a TVI mencionou o assunto. É impressionante a facilidade com que se manipula a realidade neste país. Bom, neste país e não só, mas aqui os tiques são mais irritantes.

11/27/2007

Coisas dos americanos e do Correio da Manhã. Continuemos na nossa realidade.

Psicopata assassino comeu o sogro na casa de Sintra

Nuno Costa

A fotografia de Anatoliy Bobrysh deu entrada no sistema de desaparecidos da Judiciária em Maio de 2005. O ucraniano de 51 anos ficou sozinho em casa, em Almoçageme, Sintra, enquanto a mulher e a filha foram uns dias à terra natal.

Restava-lhe a companhia do genro e vizinho, de 30 anos – que, sabe-se agora, é canibal. Comeu o sogro, serrou-lhe os ossos e deitou-os fora dentro de vários sacos do lixo.

Quando entrou em Portugal, há cerca de quatro anos, o assassino já carregava suspeitas pela morte violenta da mulher do chefe, na Ucrânia. Este imigrante chegou ilegalmente ao nosso país e instalou-se com a família na pacata vila de Almoçageme, nos arredores de Sintra. Mas a mulher já lhe pedia o divórcio em Maio de 2005, até que este apanhou o sogro sozinho.

Primeiro matou-o, depois comeu-o. Serrou-lhe os ossos e dividiu o cadáver entre vários sacos do lixo – antes de os deitar fora numa zona de mato na localidade de Loureira, Almoçageme. E só “contou o crime a um amigo”, adianta ao CM fonte policial.

Mas em 20 de Agosto do ano passado o canibal voltou a matar. Trabalhava como jardineiro até à manhã de segunda-feira em que decidiu esventrar a patroa com a faca da cozinha, numa vivenda da Praia Grande (ver página ao lado).

Este crime lançou a secção de homicídios da Judiciária para mais de dois meses no terreno – o imigrante foi apanhado a 7 de Novembro. “Psicopata e um assassino em potência”, como é descrito nos exames psiquiátricos feitos já na cadeia de Caxias, ainda puxou fogo ao cadáver da patroa para simular um incêndio. Não enganou a PJ e, depois de andar fugido, a 7 de Novembro foi apanhado.

Quando prendeu o assassino no ano passado, a Judiciária não conseguiu logo provas que ligassem os vários crimes, até porque o cadáver do sogro continuava desaparecido. E o mistério desfez-se “há cerca de um mês”, no dia em que os bombeiros de Almoçageme foram apagar um incêndio em zona de mato. Lá estavam os restos de Anatoliy. Ossos serrados e a marca que o distinguia – foi identificado numa análise feita na Ucrânia pelas quatro coroas de prata no maxilar superior.

Outra certeza: aquele homem foi comido. Deixou mulher e filha – a primeira faz limpezas e a segunda trabalha num café de Almoçageme – enquanto o genro canibal está preso em Caxias. Já foi interrogado por mais um crime e a PJ espera informações da Ucrânia para saber se há mais casos de canibalismo naquele país. É “um psicopata nato e seguramente ia continuar a matar”.

JÁ ESTAVA PRESO POR ESVENTRAR A PATROA

O ucraniano era conhecido na Praia Grande, Sintra, e tratava do jardim a várias pessoas – entre elas uma mulher de 65 anos, sempre sozinha na sua grande vivenda. Na manhã de 20 de Agosto de 2006, uma segunda-feira, o psicopata foi à cozinha e assassinou a patroa indefesa com várias facadas no peito, conforme o CM noticiou na altura. Cobriu-a depois com roupa e deitou-lhe fogo.

A vítima foi primeiro levada para o quarto, “mas a falta de oxigénio no local não permitiu que o corpo ficasse carbonizado. E quando foi descoberta tinha apenas algumas queimaduras”, segundo fonte da PJ. Depois de ter feito tudo para encobrir o homicídio, o assassino que se descobriu agora também ser canibal ainda tentou incendiar toda a vivenda, abrindo os bicos do fogão.

Quando os bombeiros de Almoçageme (os mesmos que há um mês descobriram noutro fogo os ossos do sogro do homicida) chegaram ao local, chamados por uma empregada, encontraram apenas pequenos focos de incêndio – prontamente dominados. O cão da dona da casa estava na casa de banho e foi o primeiro a ser encontrado morto, intoxicado pelo gás, e a porta do quarto estava trancada. Teve de ser arrombada, já na presença da GNR. Mas a investigação transitou para a PJ – e logo nessa tarde foram recolhidos vestígios do crime e interrogados vizinhos.

Tudo apontava para o jardineiro, mas o ucraniano não foi fácil de localizar. Uma brigada da secção de homicídios apanhou-o finalmente a 7 de Novembro do ano passado. Já está preso em preventiva há mais de um ano. E responderá ainda por ter comido o sogro.

CRIME CHOCOU OS VIZINHOS DA PRAIA GRANDE

O ucraniano era conhecido na Praia Grande por tratar dos jardins das vivendas – os moradores estavam longe de imaginar um perigoso assassino em série. A PJ sabe agora que o imigrante é também um canibal

"NÃO CONHEÇO OUTROS CASOS EM PORTUGAL", Duarte Vieira, pres. Ins. Medicina Legal

Correio da Manhã – Há memória de outro caso de canibalismo em Portugal?

Duarte Vieira – Não conheço, em 23 anos de carreira, outros casos em Portugal. Os que conheço são no estrangeiro ou, até ao século passado, as tribos que se alimentavam de carne humana.

– A alimentação com carne humana é prejudicial à saúde?

– Não, a menos que haja no corpo uma doença transmissível. Também depende se a carne é cozinhada ou não.

– Mas a ingestão de carne humana, mesmo cozinhada, não se torna mais perigosa?

– Em qualquer carne, mesmo a animal, se coloca o mesmo problema. Há riscos para a saúde, quando o animal tenha uma doença, que aumentam se a carne não for cozinhada.

– Como se apura se alguém foi vítima de canibalismo?

– Fazem-se perícias aos restos mortais, primeiro para identificar o corpo, depois para as causas da morte.

"É O PODER ABSOLUTO SOBRE A VIDA ALHEIA", Carlos Poiares, psiquiatra forense

Correio da Manhã – Como se explica o canibalismo?

Carlos Poiares – Faz parte do culto do povo primitivo, mas hoje em dia é socialmente chocante: o estádio supremo da violência e uma patologia grave.

– O objectivo é apenas retirar prazer no sabor da carne humana?

- Não. Há casos em que a ingestão da própria carne humana lhes traz imensa satisfação, mas trata-se também de humilhação e o sentimento de estar acima de todas as normas e pessoas.

– Comendo-se alguém de quem não se gostava?

- Provavelmente. Retiram prazer e é o poder absoluto sobre a vida alheia: ‘Não só te mato como ainda te como’. É horripilante, por mais que se estude não há explicação...

11/26/2007

Beowulf

Entretanto fui ver ontem esta nova versão para cinema desta lenda nórdica, em 3D. Uma boa experiência, ainda que a Angelina Jolie apareça nua, digitalizada, sem genitais, nem uma rachinha :)

Detalhes.

http://www.beowulfmovie.com/
http://www.imdb.com/title/tt0442933/

Esta juro que não sabia

http://static.publico.clix.pt/2007acordaoTribunalRelacao.pdf

Mas estes gajos ainda escrevem coisas à mão?!

11/21/2007

Ina que porreiro pá!

É pá, porreiro pá!

http://ww1.rtp.pt/noticias/=308573&tema=27

Vamos ter petróleo por 100 anos!

11/20/2007

Porreiro pá!

Duas centenas de pessoas saudaram Hugo Chávez à chegada a Lisboa
20.11.2007 - 20h58

Duas centenas de pessoas concentraram-se hoje junto à porta principal do Aeroporto de Figo Maduro, em Lisboa, para "receber e saudar" o Presidente da Venezuela, Hugo Chávez.

Ao som de músicas de José Afonso e empunhando cartazes com slogans como "Na Venezuela é verdade: revolução é liberdade", 200 manifestantes pretenderam demonstrar solidariedade a Hugo Chávez, que deveria aterrar em Lisboa pelas 20h30.

A concentração foi organizada pela Associação de Amizade Portugal-Cuba e pelo Comité de Solidariedade com a Venezuela. Também marcaram presença membros da CGTP, da União dos Sindicatos de Lisboa e da União da Resistência Antifascista de Portugal.

A presidente da Associação de Amizade Portugal-Cuba, Armanda Fonseca, disse à Lusa que a recepeção pretendia demonstrar "a satisfação pelo estreitamento das relações entre Portugal e a Venezuela".

Armanda Fonseca afirmou que se pretende ainda "mostrar apreço e solidariedade" pela política externa do Presidente Hugo Chávez.

11/19/2007

11/11/2007

Nem mais



Ou como diria uma voz popular em Madrid: "já era altura de alguém dizer alguma coisa a esse palerma".

11/09/2007

Update

Update

O Gerês arde.

Update

Além da Inglaterra, a pior tempestade do último meio século já atingiu outros países da Europa. Ventos fortes e chuvas torrenciais começaram a chegar à Holanda, França e Bélgica.

Update

Oito mortos.
Ondas gigantes no Mar do Norte.
Venezuela à beira de uma guerra civil.
Incêndios descontrolados em Portugal.
Petróleo e dólar que nem uma slot machine louca.

11/07/2007

Update

Pelo menos sete pessoas morreram no tiroteio num liceu da Finlândia
07.11.2007 - 14h57 Agências

Pelo menos sete pessoas morreram hoje no liceu Jokela de Tuusula, uma localidade situada no sul da Finlândia, quando um jovem armado disparou sobre professores e alunos. O incidente ocorreu horas depois de uma mensagem vídeo ter sido colocada no YouTube a alertar para o ataque.

Um dos professores do liceu confirmou à Reuters que o atirador era um dos seus alunos. Eero Hirvensalo, chefe da equipa de emergência do Hsopital de Helsínquia, indicou, por sua vez, que”, até momento, há sete mortos”, mas que poderá haver mais vítimas mortais resultantes do tiroteio.

O número de feridos está ainda por determinar, tendo Tuula Panula, porta-voz do município de Tuusula, situado a 40 quilómetros da capital, Helsínquia, indicado que o director do estabelecimento de ensino está entre as pessoas atingidas.

Globalização II

Pelo menos três mortos em tiroteio num liceu da Finlândia
07.11.2007 - 11h59 AFP

Um tiroteio num liceu da Finlândia provocou pelo menos três mortos, avançaram fontes policiais aos media finlandeses.

Uma das vítimas é o director do estabelecimento, indica o diário "Ilta-Sanomat" no seu site de Internet.

O site do diário de referência "Helsingin Sanomat" escreve, por seu lado, que o atirador é um jovem de 18 anos.

O tiroteio ocorreu num liceu da localidade de Tuusula, a cerca de 40 quilómetros a nordeste da capital, Helsínquia. A escola está sob escolta policial.

"As coisas ainda estão a acontecer. Não sabemos exactamento o que se passa", indicou à AFP o comissário Tero Haapala da polícia criminal.

11/06/2007

Globalização

Homem de origem magrebina detido no Porto no âmbito de operação antiterrorista italiana
06.11.2007 - 13h17 Lusa

Um homem de origem magrebina foi hoje detido no Porto por suspeita de terrorismo internacional, imigração ilegal e contrabando, no âmbito da operação antiterrorista desencadeada hoje em Itália, anunciou a Polícia Judiciária.

O suspeito foi detido às 9h00 e deverá ser ouvido, hoje ou amanhã, no Tribunal da Relação do Porto para primeiro interrogatório judicial, esclareceram, em conferência de imprensa, o coordenador da Direcção Central de Combate ao Banditismo (DCCB), Luís Naves, e dois directores nacionais adjuntos da Directoria da PJ de Lisboa.

O suspeito foi detido no âmbito da operação antiterrorista desencadeada hoje em Itália e que envolveu ainda a França e o Reino Unido.

O ministro da Administração Interna, Rui Pereira, tinha já confirmado que um dos indivíduos procurados, no âmbito da operação antiterrorista lançada em Itália, era referenciado em Portugal.

Maioria dos detidos é de origem tunisina

A operação antiterrorista lançada hoje em Itália por ordem do Ministério Publico de Milão visou cerca de 20 pessoas acusadas de terrorismo internacional.

O ministro do Interior italiano, Giuliano Amato, indicou que a maior parte dos suspeitos da operação antiterrorista são tunisinos. "Trata-se principalmente de tunisinos", declarou Amato durante uma conferência de imprensa consagrada à detenção de um chefe da máfia Salvatore Lo Piccolo, ontem, na Sicília.

11/05/2007

Colômbia, Bogotá, 4 de Novembro de 2007





Como eu o compreendo...

Entrevista: “Ser de esquerda significa apoiar o Estado e, temo, ser anti-americano”
05.11.2007 - 09h02 Teresa de Sousa

O que resta da esquerda ou como a esquerda está sempre pronta a desculpar mais depressa Saddam e Ossama do que George W. Bush. Entrevista com Nick Cohen, que acaba de lançar “O que Resta da Esquerda?” em Portugal


Em 2003, Nick Cohen, jornalista, colunista do “Observer” e colaborador da “New Statsman”, escreveu um livro que foi considerado a mais devastadora crítica ao New Labour de Tony Blair. De esquerda, entenda-se. Chamava-se Pretty Straight Guys e considerava os seus governos os mais absolutistas desde os Stuarts. Levantou uma gigantesca polémica. A mesma que agora provocou o seu último livro What"s Left?, publicado em Fevereiro e agora editado em Portugal pela Aletheia com o título O que Resta da Esquerda? É uma diatribe violenta contra a esquerda liberal britânica que... se opôs a Blair.

Incoerente? Não tanto, se soubermos que, em 2003, ele já considerava que a guerra contra Saddam fora das poucas coisas que Blair fizera bem, mesmo que nem sempre pelas melhores razões. O que ele tenta provar em 2007 é como a esquerda liberal britânica (e, de caminho, a das democracias ricas do Ocidente) perdeu qualquer sentido moral virando as costas às vítimas da opressão e do terror a não ser que essa opressão e esse terror possam ser assacados aos americanos. É implacável a desmistificar os Michael Moore e os Noam Chomsky da esquerda, mas deixa-nos perplexos quando argumenta que as suas ideias afectam hoje o mainstream liberal e não apenas as suas margens. Acusa a esquerda, de um modo geral, de estar sempre disponível para desculpar mais depressa Bin Laden, Saddam ou qualquer movimento obscurantista do que George W. Bush.

Ele próprio começou por criticar a guerra, para mudar de posição quando se interrogou sobre as gigantescas manifestações de Fevereiro de 2003 contra a guerra. “O Iraque é o único país árabe com um forte movimento de oposição democrática. E, no entanto, eu pergunto-me quantos dos manifestantes sabem sequer da existência dos dissidentes.”

O seu livro, como admite na entrevista ao P2, nasce desta interrogação. Extractos.

Em 2001 era contra a guerra do Afeganistão, contra Blair, contra Bush, como muita gente na esquerda. O que é que o fez mudar desta forma, ao ponto de escrever este livro que deixa a esquerda de rastos, quando as coisas estão mesmo a correr mal no Iraque?

Uma coisa peculiar. Durante a ditadura de Saddam, que se assemelhava em tudo ao fascismo, havia uma oposição que era perfeitamente conhecida pela velha esquerda europeia – os socialistas, os comunistas, os sindicalistas. O que me fez mudar foi a constatação de que a esquerda no Reino Unido, na Europa e na América não conseguia opor-se a Bush e, ao mesmo tempo, continuar a apoiar essas pessoas que, no Iraque, partilhavam os seus valores. A partir do momento em que se pergunta porquê, então temos de perguntar a seguir que valores são esses. Parece uma coisa insignificante, mas não é.

Os valores da esquerda?

Deus sabe os terríveis crimes que a esquerda cometeu no século XX, mas era boa na luta contra o fascismo. Bom, nem sempre, mas quase sempre. E o seu lado mais nobre era o internacionalismo, a solidariedade, a camaradagem. E eu perguntei-me: porque é que tudo isto desapareceu? Nunca consegui ver ninguém de esquerda dizer: esperem aí, porque é que não apoiamos as pessoas que, no Iraque, querem exactamente o mesmo que nós e que sofreram mais do que algum de nós pode sequer imaginar?
Depois, percebi uma coisa terrível: que as pessoas que são vítimas de movimentos extremistas e de regimes ditatoriais cujos actos não podem ser atribuídos à responsabilidade dos americanos passam a ter muito pouco apoio. Por exemplo, as feministas iranianas, os palestinianos secularistas, os sindicalistas chineses. É só quando o sofrimento das pessoas pode ser atribuído à América, ou ao Ocidente em geral, só nessas condições é que merece solidariedade.

O Iraque é um exemplo clássico disto que lhe estou a dizer. Nos anos 80, quando Saddam era aliado dos EUA, as pessoas em Londres reuniam-se, choravam, sofriam com o sofrimento dos iraquianos. No momento em que Saddam invadiu o Koweit e se tornou inimigo da América, foram-se todos embora.

O seu livro foi publicado em Fevereiro, precisamente no momento em que as pessoas, da esquerda ou da direita, que apoiaram a guerra estão a pensar se valeu a pena derrubar um ditador.

Mas este não é um livro a favor da guerra no Iraque. E também não é sobre o Iraque.
Cada vez que menciono a oposição à guerra digo que havia muito boas razões para o fazer e que quase tudo o que se disse na altura acabou por revelar-se verdadeiro Já lhe disse que a minha questão é outra.

Olhe, no Reino Unido, há uma maneira muito estranha de se descrever o que se passa hoje no Iraque. Diz-se que não sei quantas pessoas foram mortas num atentado, que uma bomba despedaçou um sindicalista, mas não se diz quem fez isso, quem pôs a bomba. Não se diz qual é a ideologia extremista que está por trás disso.

Tenta comparar o que aconteceu na Europa nos anos trinta com o que está a acontecer agora...

O que me interessou não foi o facto de parte da esquerda ter seguido Estaline. Foi ver como é que as pessoas de esquerda que eram contra o fascismo acabaram por estar ao lado de Hitler. Quando se passa a vida, tendo ou não razão, a denunciar a nossa própria sociedade e os seus abusos, fica-se quase sem defesa para compreender como o totalitarismo é mil vezes pior. Dizia-se: "O Hitler é um nazi mas o Churchill é um fascista." Hoje vimos este tipo de raciocínio todos os dias. "OK, os taliban e a Al Qaeda são horríveis, mas os Abu Ghraib, os Guantánamo são a mesma coisa."

Pensa que o maior problema dessa esquerda que critica é não gostar da democracia liberal?

É parte do problema. Mas creio que é mais profundo do que isso. O socialismo acabou e era o socialismo que definia a esquerda desde o final do século XIX até ao final dos anos 80. E o que acontece a seguir? De alguma maneira, isso liberta as pessoas para seguir qualquer tipo de ideias e também torna muito mais fácil ser de esquerda. Porque, verdadeiramente, não é preciso acreditar em nada de positivo. Antes, era preciso acreditar num programa positivo. Sou de esquerda porque acredito que os bancos devem ser nacionalizados em Portugal, por exemplo. Agora já não é preciso acreditar em nada disto. O que eu digo é que a esquerda liberal, do mainstream, traiu todos os seus princípios.

É esse salto que não compreendo no seu livro. A sua crítica concentra-se em fenómenos marginais. Mas o Fahrenheit 9/11 de Michael Moore não convence ninguém que seja normal. Noam Chomsky não tem assim tantos adeptos. Isso não é significativo do pensamento da esquerda liberal.

O que tento fazer é mostrar como algumas ideias que começaram na extrema-esquerda, que nasceram dos restos do socialismo, nos movimentos trotskistas, anarquistas, anti-globalização, nas franjas como você diz, se transformaram em ideias comuns do maisnstream liberal.

Foi um crítico duro de Blair e do New Labour. Mas quando se chega ao fim do seu livro somos obrigados a perguntar porquê. Ele foi internacionalista, quis derrubar um ditador terrível, defendeu os valores das nossas sociedades com tenacidade. Nada disso tem a ver com a esquerda?

Agora, estou menos crítico, é verdade. Mas tem razão, era crítico. Perguntava-me quando é que as pessoas iam erguer-se contra aquilo que ele estava a fazer no Reino Unido. E, afinal, as pessoas só se ergueram contra ele quando ele quis derrubar um regime totalitário. A partir daí, você tem de começar a fazer algumas perguntas.
O problema com Blair era o que acontece normalmente com líderes muito fortes. As pessoas que os rodeiam acham que não se pode discordar de uma parte sem discordar de tudo e isso torna-as dogmáticas.

Não acha, pois, que o New Labour seja uma forma moderna de esquerda?


(Pausa longa) Se eu fosse um conservador, chamar-lhe-ia assim. Mas eu não sou. É uma forma de gerir a globalização e tentar encontrar algum dinheiro dos impostos para gerir o Estado de bem-estar. O que perdeu, o que o Labour deixou cair, foi o sentido de missão, de fé.

É pragmático. Isso é mau?

Não estou a dizer que seja errado. Estou a dizer que não é reconhecível no que era a esquerda, que é diferente da esquerda do século XX, que tinha esse zelo, essa fé quase religiosa no progresso. Isso desapareceu porque foi descredibilizado pelo comunismo e também pelo sucesso do capitalismo global em tirar muita gente da pobreza. E isso deixa nas pessoas, que na Europa votam sem estados de alma nos partidos pragmáticos sociais-democratas, um vazio espiritual que pode ser facilmente ocupado por ideias negras e perigosas, essas que vêm dos extremos.

A integração dos imigrantes, as sociedades multiculturais... A esquerda também, do seu ponto de vista, não está a saber responder a isto?

Num certo sentido, o meu livro é sobre isso. As mulheres muçulmanas que vivem na Europa, por exemplo, deviam poder contar com o apoio da esquerda para se poderem emancipar. Mas, por causa do dogmatismo sobre o multiculturalismo, não podem. É a esquerda que hoje lhes diz: isso é a vossa cultura. E qualquer pessoa que se lembre de criticar essa cultura em termos mais duros é logo acusada de ser islamofóbica e racista.

Mas não lhe parece que a sua crítica é demasiado generalizada? Há intelectuais liberais no seu país que sabem perfeitamente fazer as distinções essenciais. Garton Ash, por exemplo...

Sim? Não sabia que Timothy Garton Ash criticou duramente Ayaan Hirsi Ali [a deputado holandesa de origem somali], quando ela escreveu um livro a defender os valores do iluminismo e o feminismo? Não sabia? Os principais ataques a Hirsi Ali não vieram dos conservadores, vieram dos liberais como ele. Quando são confrontados com uma mulher que precisa de guarda-costas para sair de casa porque defende os direitos das mulheres e o direito a escolher a sua fé, a mudar de fé, a não ter qualquer fé, sentem-se desconfortáveis. Penso que se colocaram numa atitude que anda próxima do racismo ao considerarem que os direitos dela são diferentes dos de qualquer mulher branca emancipada que viva em Lisboa ou em Londres só porque tem pele escura e é da Somália ou do Irão, oriunda de uma cultura diferente.

O que sobra para a esquerda então, para além da protecção do ambiente como você refere?

No livro, recuo 100 anos para os socialistas e intelectuais do início do século XX, que hoje diriam que ganharam quase tudo. Essa é uma parte do problema. Actualmente, ser de esquerda significa apoiar o Estado de bem-estar e as instituições públicas. E, temo, ser anti-americano. Não sei como é que as coisas vão avançar a partir daqui. Mas quero acreditar que o lado melhor da esquerda, o seu lado emancipador, volte a existir. Para além disso, essa ideia do New Labour de saber como é que preservamos essa democracia social que faz a civilização europeia num mundo globalizado é interessante.

11/02/2007

Filmes e Tops

Não sei bem, mas neste momento e aí de 2002 para cá, se ficou algo na cabeça foi:



Dois monumentos.



Uma surpresa, um grande actor.



E sobretudo este, o melhor de Cronenberg, até que o Crash.

+ O Castelo Andante, Million Dollar Baby, claro, do mestre vivo, os Kill Bill, e uma nota de honra para o Batman Begins.