11/27/2007

Coisas dos americanos e do Correio da Manhã. Continuemos na nossa realidade.

Psicopata assassino comeu o sogro na casa de Sintra

Nuno Costa

A fotografia de Anatoliy Bobrysh deu entrada no sistema de desaparecidos da Judiciária em Maio de 2005. O ucraniano de 51 anos ficou sozinho em casa, em Almoçageme, Sintra, enquanto a mulher e a filha foram uns dias à terra natal.

Restava-lhe a companhia do genro e vizinho, de 30 anos – que, sabe-se agora, é canibal. Comeu o sogro, serrou-lhe os ossos e deitou-os fora dentro de vários sacos do lixo.

Quando entrou em Portugal, há cerca de quatro anos, o assassino já carregava suspeitas pela morte violenta da mulher do chefe, na Ucrânia. Este imigrante chegou ilegalmente ao nosso país e instalou-se com a família na pacata vila de Almoçageme, nos arredores de Sintra. Mas a mulher já lhe pedia o divórcio em Maio de 2005, até que este apanhou o sogro sozinho.

Primeiro matou-o, depois comeu-o. Serrou-lhe os ossos e dividiu o cadáver entre vários sacos do lixo – antes de os deitar fora numa zona de mato na localidade de Loureira, Almoçageme. E só “contou o crime a um amigo”, adianta ao CM fonte policial.

Mas em 20 de Agosto do ano passado o canibal voltou a matar. Trabalhava como jardineiro até à manhã de segunda-feira em que decidiu esventrar a patroa com a faca da cozinha, numa vivenda da Praia Grande (ver página ao lado).

Este crime lançou a secção de homicídios da Judiciária para mais de dois meses no terreno – o imigrante foi apanhado a 7 de Novembro. “Psicopata e um assassino em potência”, como é descrito nos exames psiquiátricos feitos já na cadeia de Caxias, ainda puxou fogo ao cadáver da patroa para simular um incêndio. Não enganou a PJ e, depois de andar fugido, a 7 de Novembro foi apanhado.

Quando prendeu o assassino no ano passado, a Judiciária não conseguiu logo provas que ligassem os vários crimes, até porque o cadáver do sogro continuava desaparecido. E o mistério desfez-se “há cerca de um mês”, no dia em que os bombeiros de Almoçageme foram apagar um incêndio em zona de mato. Lá estavam os restos de Anatoliy. Ossos serrados e a marca que o distinguia – foi identificado numa análise feita na Ucrânia pelas quatro coroas de prata no maxilar superior.

Outra certeza: aquele homem foi comido. Deixou mulher e filha – a primeira faz limpezas e a segunda trabalha num café de Almoçageme – enquanto o genro canibal está preso em Caxias. Já foi interrogado por mais um crime e a PJ espera informações da Ucrânia para saber se há mais casos de canibalismo naquele país. É “um psicopata nato e seguramente ia continuar a matar”.

JÁ ESTAVA PRESO POR ESVENTRAR A PATROA

O ucraniano era conhecido na Praia Grande, Sintra, e tratava do jardim a várias pessoas – entre elas uma mulher de 65 anos, sempre sozinha na sua grande vivenda. Na manhã de 20 de Agosto de 2006, uma segunda-feira, o psicopata foi à cozinha e assassinou a patroa indefesa com várias facadas no peito, conforme o CM noticiou na altura. Cobriu-a depois com roupa e deitou-lhe fogo.

A vítima foi primeiro levada para o quarto, “mas a falta de oxigénio no local não permitiu que o corpo ficasse carbonizado. E quando foi descoberta tinha apenas algumas queimaduras”, segundo fonte da PJ. Depois de ter feito tudo para encobrir o homicídio, o assassino que se descobriu agora também ser canibal ainda tentou incendiar toda a vivenda, abrindo os bicos do fogão.

Quando os bombeiros de Almoçageme (os mesmos que há um mês descobriram noutro fogo os ossos do sogro do homicida) chegaram ao local, chamados por uma empregada, encontraram apenas pequenos focos de incêndio – prontamente dominados. O cão da dona da casa estava na casa de banho e foi o primeiro a ser encontrado morto, intoxicado pelo gás, e a porta do quarto estava trancada. Teve de ser arrombada, já na presença da GNR. Mas a investigação transitou para a PJ – e logo nessa tarde foram recolhidos vestígios do crime e interrogados vizinhos.

Tudo apontava para o jardineiro, mas o ucraniano não foi fácil de localizar. Uma brigada da secção de homicídios apanhou-o finalmente a 7 de Novembro do ano passado. Já está preso em preventiva há mais de um ano. E responderá ainda por ter comido o sogro.

CRIME CHOCOU OS VIZINHOS DA PRAIA GRANDE

O ucraniano era conhecido na Praia Grande por tratar dos jardins das vivendas – os moradores estavam longe de imaginar um perigoso assassino em série. A PJ sabe agora que o imigrante é também um canibal

"NÃO CONHEÇO OUTROS CASOS EM PORTUGAL", Duarte Vieira, pres. Ins. Medicina Legal

Correio da Manhã – Há memória de outro caso de canibalismo em Portugal?

Duarte Vieira – Não conheço, em 23 anos de carreira, outros casos em Portugal. Os que conheço são no estrangeiro ou, até ao século passado, as tribos que se alimentavam de carne humana.

– A alimentação com carne humana é prejudicial à saúde?

– Não, a menos que haja no corpo uma doença transmissível. Também depende se a carne é cozinhada ou não.

– Mas a ingestão de carne humana, mesmo cozinhada, não se torna mais perigosa?

– Em qualquer carne, mesmo a animal, se coloca o mesmo problema. Há riscos para a saúde, quando o animal tenha uma doença, que aumentam se a carne não for cozinhada.

– Como se apura se alguém foi vítima de canibalismo?

– Fazem-se perícias aos restos mortais, primeiro para identificar o corpo, depois para as causas da morte.

"É O PODER ABSOLUTO SOBRE A VIDA ALHEIA", Carlos Poiares, psiquiatra forense

Correio da Manhã – Como se explica o canibalismo?

Carlos Poiares – Faz parte do culto do povo primitivo, mas hoje em dia é socialmente chocante: o estádio supremo da violência e uma patologia grave.

– O objectivo é apenas retirar prazer no sabor da carne humana?

- Não. Há casos em que a ingestão da própria carne humana lhes traz imensa satisfação, mas trata-se também de humilhação e o sentimento de estar acima de todas as normas e pessoas.

– Comendo-se alguém de quem não se gostava?

- Provavelmente. Retiram prazer e é o poder absoluto sobre a vida alheia: ‘Não só te mato como ainda te como’. É horripilante, por mais que se estude não há explicação...