10/26/2007

O Sono e o Circo

É de facto notável a forma despudorada com que os governantes deste país e demais membros da chamada UE27 (certo?) estouram com o dinheiro dos contribuintes nas mais diversas inutilidades.

Festas, exposições, concertos de piano, envolvimento das forças militares com salvas de tiros e tudo. Só faltou uma visita ao túmulo do soldado desconhecido. Com pompa e circunstância. E claro, estradas cortadas em catadupa, A5, A8, CREL, tudo cortado, e a horas escolhidas com uma precisão siberiana por forma a gerar monumentais filas de trânsito. Enfim, o cidadão comum atirado para o fundo da tabela, como é habitual.

Ora repare-se neste artigo no Público:

Visita oficial de Putin teve a pompa. Faltaram os sorrisos de circunstância

26.10.2007

Podia ser Hollywood. A chegada de Vladimir Putin ao Palácio da Ajuda teve direito a um baile de políticos, embaixadores e empresários, câmaras e holofotes, cortejos de BMW, desfiles de toilettes entre mulheres desconcertadas no topo dos saltos altos e homens caídos em fatos invariavelmente de cor escura.
Teve uma rampa vermelha de acesso à Galeria D. Luís I. Teve também umas escadas mas ninguém as usou. "Parece a noite dos Óscares", diz um jornalista. Teve Cavaco Silva e Maria Cavaco Silva. Teve Isabel Pires de Lima. Teve um Sócrates versão discreta, quase alienada. Teve Putin e dezenas de jornalistas e fotojornalistas portugueses e russos (mais russos do que portugueses) à espera de um gesto mais entusiasmado ou que fugisse à monotonia das visitas oficiais. Teve até um fotógrafo da Reuters que se deu ao trabalho de levar um escadote para não perder pitada. Teve a pompa. Faltaram os sorrisos e a empatia fotogénica de circunstância.
Alguns fazem-se às câmaras. Outros, como José Sócrates, só se deixam ver de costas. Freitas do Amaral chega à frente, no lugar do pendura, e a mulher atrás. Cavaco Silva aparece sério, Maria Cavaco Silva espalhando sorrisos. Putin chega uns oito ou nove minutos depois do previsto, rodeado de segurança. Cavaco Silva parece dar instruções à mulher. Os fotógrafos mergulham nos limites últimos da vedação. Putin lança um sorriso nos primeiros instantes do cumprimento entre presidentes. Um sorriso tímido, mas um sorriso. O único visível da noite. O cumprimento demorou-se para as câmaras. Mas o sorriso de Putin morreu ali.
Cavaco e a sua mulher, Isabel Pires de Lima, Putin e restante comitiva dirigem-se para a galeria para a inauguração da exposição do Hermitage. Só os fotógrafos oficiais, uma câmara de TV e os fotógrafos da agência portuguesa podem passar para lá da porta. "Cavaco esteve sempre muito afastado do Putin. Estava a fotografar o Putin e o Cavaco quase não se via", diz um fotógrafo da Lusa. Numa das fotografias, Cavaco é apanhado muito atrás de Putin que, com ar de enfado, mira uma das peças em exposição.
Depois da exposição, um concerto de piano também barrado aos jor-nalistas. Voltam a aparecer para to-dos num desfile interminável de curtos cumprimentos. Maria Cavaco Silva está à esquerda, Cavaco Silva à direita, Putin ao centro. Cavaco fala e gesticula. Putin está sempre sério. Ou talvez não. Certo é dizer que está sempre com o mesmo ar. Freitas do Amaral é o único que parece estar prestes a fazer uma vénia a Putin, tal é o entusiasmo com que lhe agarra o braço. Cavaco Silva apresenta Ramalho Eanes com regozijo. Putin e Cavaco estão de azul escuro e de gravatas às riscas, minutos parados para as fotografias com ar entediado. Sussuram entre dentes. Quando a fila termina, dois empregados trazem panos quentes para que possam limpar as mãos. Putin é o último a devolvê-lo. Segue ao lado de Cavaco Silva mas parece que estão de costas voltadas. Sílvia Caneco


A passagem do senhor que manda na Rússia vem uma vez mais demonstrar, como eu costumo dizer, que cada povo tem aquilo que merece. Os russos, nós, e provavelmente todos.

E falavam do tempo dos reis.