4/24/2010

Depois do adeus

E isto é tão verdade...

Vai vir novamente a fanfarra, mais os cravos e a liberdade. Sem esquecer a República e o seu farto busto que, por um extraordinário processo de reviravolta histórica, se pretende apresentar como uma antecipação do 25 de Abril. E depois? Depois nada, que a vida está difícil e nós não sabemos como vamos pagar dívidas que não contraímos. Não era de facto isto que estávamos à espera quando nos prometeram a democracia. Na verdade esperava-se muito mais.
Ao ver as imagens de Portugal em 1974 o mais espantoso é o ar sorridente e esperançado das pessoas. Hoje, rir assim só no futebol, com a desvantagem estética para este último, que a parafrenália dos bonés e dos cachecóis, ao contrário do que sucedia com os cravos e as fardas, dá um ar vagamente apalhaçado a quem celebra.
Em Abril de 1974 aos portugueses foi prometido um país mais livre, mais justo, mais rico e mais respeitado. Somos hoje um país certamente mais livre do que éramos até Abril de 1974, mas certamente menos livre do que fomos anos depois.

A desmesura do Estado gerou uma multidão de avençados que se instalou em lugarzinhos de nomeação a partir dos quais se metastizam num universo de jeitos, favores e conhecimentos. Esta gente é hoje o maior obstáculo ao desenvolvimento do país não só porque produz pouco, mas sobretudo porque tem o seu seguro de vida na manutenção desse pântano político-empresarial de dinheiros públicos e interesse privados, tão privados que não são sequer confessáveis.

À parte a liberdade – e essa convém frisar que nos foi garantida pelas Forças Armadas que tão pouco dignificadas têm sido pela democracia – falhou-se em muito daquilo que dependia da competência da classe política. Os pobres são certamente menos pobres hoje do que eram em 1974, mas o sonho de conseguir subir na vida esse perdeu-se no enredo da burocracia, da carga fiscal asfixiante e da loucura dos licenciamentos e dos certificados.


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